sábado

MEIA HORA EM IRABERA

Escondem o céu e disfarçam as nuvens
altíssimas árvores com centenas de anos.
Há nuvens e céu, mas de folhas gratuitas
e pássaros isentos de desenganos

A meio o ar, verde e imóvel,
Que nenhum vento perturbou,
mas um ar jovem, puro, virgem,
que a chuva (ou o tempo infinito) lavou.

E, em baixo adormecida, uma lagoa verde,
sereia fugida do mar e do mundo,
com translúcidos seios amamenta
de água fria os peixes e as pedras do fundo,
e estende os longos braços, dois ribeiros
que afagam e bichos da mata,
e tem a cabeleira de espuma alva e crespa
pousada na montanha, a fingir de cascata.

Aqui valia a pena a eternidade,
Sem passado ou futuro, atento ou inerme.

Árvores, pedras, ar e água,
Peixes e pássaros anónimos,
- tudo isto irá sobreviver-me…
e há que beber depressa este verde silêncio!

O rumor de água e de aves é mentira:
em Irabera há só a sereia que dorme
e sonha e se espreguiça e de leve respira.

in Memória de Timor-Leste, Leonel Neves, 1996

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